Monthly Archives: Agosto 2013

Fogos matam na República dos Bananas

Jovens e bombeiros. A morte esperava-os no combate às chamas que engolem as florestas portuguesas. A falta de formação adequada e outras faltas caracteristicas dos meios rudimentares de que dispõem os bombeiros de Portugal foram parte das causas. Os principais responsáveis são os que têm assumido as pastas de tutela dos bombeiros e de tutela da gerência das florestas. Primeiro esses. Mas também vão na leva todos os que têm passado pelos governos, todos que têm assentido na legislação que permite a alguns literalmente brincarem com a riqueza florestal nacional e com a vida das pessoas, com os bens materiais das pessoas que vêem suas casas arderem, suas colheitas desaparecerem em mares de chamas, seus animais ficarem carbonizados no pasto dos fogos. Porém, desses, dos verdadeiros responsáveis recheados de irresponsabilidades e défices para desempenharem cargos de ministros, de deputados, de presidentes da República, desses quase não se fala nem passa pela cabeça de alguém responsabilizá-los. Em vez disso veneram-nos. Estúpidamente, mas veneram-nos. E eles abusam. Constituem-se em grupos semelhantes a mafias com carta branca para priorizarem os seus interesses pessoais, partidários e de grupos económicos. São eles que se aproveitam e se vêem denominados deputados da Assembleia da República. Da República dos Bananas. Só poderá ser. Porque aquilo que os portugueses incorporam e mais parecem são uns bananas… Que até vão perdendo tudo, até nos incêndios que a tempo não foram adequadamente prevenidos. E as negociatas por via dos incêndios? Já pensaram nisso. Quem e quantos ficam a ganhar com o mal do país e dos que ficam sem nada ou quase sem nada. Já pensaram nisso? Pensem. Os bananas têm de saber pensar para agir e deixarem de ser bananas. Em tempos Portugal já foi uma República de pessoas que conquistaram a dignidade, a democracia, a liberdade, a justiça, o respeito pelos direitos humanos e com eles viviam em conformidade. Acabe-se com os fogos na República dos Bananas e que surjam os portugueses novos. Limpinhos.

Otávio Arneiro

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Sauna nos autocarros da Carris

À sombra, no exterior, estavam 35 graus centígrados. Temperatura ambiente. Verão. Calor. Lisboa. Portugal. Em alguns dias, bastantes, os 38 graus são a medida certa deste verão. E até mais, a rondar os 40 graus. Imaginem uma paragem de autocarros onde uma dezena de passageiros aguarda o transporte. Uma árvore oferece sombra (mal) a essas pessoas. A quinze metros ou pouco mais um autocarro está imobilizado, a fazer tempo para cumprir horário. Parado ao sol. O motorista refugiou-se no outro lado do passeio, na sombra onde moram os 38 graus. Minutos passados entra, senta-se nos comandos e arranca, a ferver. Em brasa. Anda aqueles quinze metros até à paragem e abre a porta para que os passageiros entrem. Abriu a porta e os 38 graus até ficaram abanados com os mais de 45 que vieram lá de dentro. Os passageiros fizeram caretas áquela lufada de ar tão quente. Entraram. “E o ar condicionado?” Perguntaram ao motorista. “Está avariado.” Respondeu ele, iniciando a marcha rumo ao destino. Talvez o inferno, já que o transporte era mais que um forno. Mulheres diziam com voz esganiçada que naquela carreira era sempre a “mesma história e o ar condicionado estava sempre avariado”. “Olhe que não”, disse o velhote do lugar ao lado. Ainda um dia destes passei pelo mesmo numa outra carreira.” O nariz da mulher de negro arrebitou. “Pois é. Isso só acontece ou acontece mais é nas carreiras dos bairros sociais. Para as avenidas finas há sempre ar condicionado.” Esclareceu ela com toda a certeza do mundo. Do autocarro ninguém saía e cada vez entravam mais pessoas. Mais calor de corpos a juntar ao forno que o autocarro já era por ter estado minutos demais parado ao sol. As janelas infimas, inadequadas para climas do sul da Europa, não davam sequer para entrar um pouco de ar “fresco” – a 38 graus mas melhor que os muito mais de 40 que estava dentro do autocarro. Os berros de protesto pelo calor cresciam. “Os filhos da puta querem economizar combustivel e dizem que o ar condicionado está avariado.” Ouviu-se. “Pois é. Nas oficinas até há ordens para desligar os fios para os motoristas não terem tentações.” Ouviu-se. “São uns grandes cabrões”. Quem? Os motoristas? Os das oficinas da Carris? Não. Os do governo. “Os gistores” (gestores), como foi dito. “Bandidos. Chulos.” Mistura explosiva de revolta contida, de desconforto, com muito suor e odores intensos e desagradáveis misturados por entre palavras e impropérios que visavam os “de lá de cima”. Nem Cavaco escapou. Nem Passos Coelho escapou. Nem as mães, nem os pais. Mas “os filhos da puta dos gistores” é que foram os grandes bombos da festa. Que “até lhes metia o ar condicionado pelo cu acima, se os sacasse lá no bairro.” Disse o que chamavam de Nelocas. Desdentado mas determinado. Melhor foi o momento do humor. A mulher de preto, cheia de certezas avançou com a sabedoria na ponta da língua e afirmou que “todos aqueles cabrões e vacarronas lá de cima, gistores e ministros e os que roubam à farta as nossas côdeas, são nossos amigos.” Espanto na cara do Nelocas e de todos. “Oh mulher”, ia a dizer uma morenaça avantajada toda banhada em suor, “vai lavar essa boca…” A de preto interrompeu: “São nossos amigos. Pois é, pois é. Porque pagamos o transporte e temos sauna de borla”, e ria, e ria. E começaram todos a rir e a dizer que haviam de dar de castigo aquela sauna aos tais “lá de cima” quando viesse “a próxima revolução do 25 de abril…” Mas vai acontecer uma nova revolução do 25 de abril? Como é que aquela gente sabe estas coisas? Serão miragens por causa do intenso calor dentro do inferno dos autocarros da Carris? Pode ser. Quase tudo passa com uma chuveirada no balneário público. Limpinho.

Otávio Arneiro

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LIMPEZA GERAL

chuveiroA começar. Era, e ainda é, nos balneários públicos que a pobreza se dedica às suas operações de higiene. Quase sempre levam a sua toalha, para se secarem, o seu sabão – ou sabonete se o dinheiro der para isso – o seu champô, se houver dinheiro para o comprarem. Mas, dizem e julgam saber saber, que a água só por ela lava. Havia até uma canção portuguesa que ém refrão dizia que “a água lava tudo, a água só não lava a língua dessa gente”. Essa gente eram as más-línguas. Eram os insatisfeitos que sujavam nomes de bons cristãos, caridosos, que se preocupavam em levar nos bolsos moedas de 20 e de 50 centavos todos os domingos quando iam à missa e ali distribuiam umas quantas pelos pedintes que faziam fila para receber as migalhas tão bondosamente oferecidas em exibição que contrariava o dizer da biblia (que a tua mão direita não saiba aquilo que a esquerda oferece. Mas era importante essa exibição, para saberem quanto bons cristãos eram aqueles abastados cidadãos que, graças a Deus e a Salazar, cumpriam o sacrificio de distribuir alguma da sua riqueza pelos pedintes esfarrapados, descalços e esfomeados. Até era, algumas das vezes, com essas moedinhas que pagavam a sua operação higiénica no balneário público. Depois de comprarem um pão de 8 (8 por custar exatamente 8 tostões – oitenta centavos). E assim ficavam lavados e aconchegados com uma ou duas das finas fatias de pão. O pão escuro. O pão que o diabo amassou. Com eles era assim. Os bons cristãos, esses, depois da saída da missa, de se pavonearem e verterem grande parte da hipocrisia que continham lá iam rumo à lagosta, ao tornedó, na linha do Estoril, que era finérrima – e ainda é? Bons tempos. Domingos de limpeza geral. Lavavam-se corpos que logo a seguir recebiam novas roupas esfarrapadas ou as mesmas depois de sacudidas, e lavavm-se almas assentes na hipocrita caridadezinha salazarista. Algo muito semelhante ao que conspurca o espírito de Isabel Jonet, Mota Soares, muitos outros deste cavaquismo salazarista que tem por primeiro-ministro um tal de Passos Coelho. Tudo limpinho.

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